As vozes estão cada vez mais altas...
Os sussuros, não sei mais como diferencia-los dos gritos...
Os vultos vem e vão assim como a minha memória...
As minhas mãos só servem pra tentar esconder o meu rosto da realidade
esconder da verdade, do medo, do frio, do escuro, dos seus olhos...
Meus pés não me levam a lugar algum, meus olhos só me fazem ver aquela criatura feia...
Sei que já o vi, mas não me lembro onde...
Sei que já o ouvi, mas não me lembro por que...
Sei que já o senti, mas não me lembro como...
Seu cabelo, seus olhos, suas mãos, todo ele me parece tão familiar...
Como se um dia o tivesse amado, mais do que tudo nessa vida...
Como se tivesse feito parte de mim...
Mas a luz vem pela manha, e me diz que aquela criatura sou eu...
Que aquela criatura fui eu um dia...
Que aquele rosto está ali pra tentar me mostrar de como era feliz...
Aqueles olhos me fintam dia e noite, pra tentar me fazer lembrar...
Lembrar tudo que desperdiçei...
Que deixei cair...
Que deixei sumir...
Que deixei fugir...
De mim...
De nos...
De todos aqueles que um dia fui...
Que tentei ser...
Que pensei ser...
Que fingir ser...
Mas agora são todos pinturas em minhas paredes...
São todos personagens de um futuro sem fim...
São todos personagens de mim...